A fonte calibre e a ótica sobre as relações humanas

Vinicius de Souza
3 min readApr 11, 2023

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Imagem: Acervo pessoal (2023)

[O título precisa de um enfoque mais adequado. Quem sabe um frescor?].

Não entendo o motivo que toda vez, meu word abre com as configurações automáticas e a fonte calibre me recepciona friamente. Será que existe algo mais desmoralizante que a fonte calibre no infinito universo de caracteres já criados pela tecnologia?

Penso que ela é uma letra solitária, oportunista e todas as vezes quando alguém a utiliza, inicia a digitação de um texto que termina sem sentido algum. Seria interessante analisar a vida útil dessa letra, mas ao mesmo tempo, percebo que eu e ela temos muito em comum.

[Talvez caiba um exemplo prático/experiência própria de como a letra calibre e eu temos algo em comum. Uma narrativa mais cômica/elucidativa ao invés de um discurso triste e depreciativo].

As relações humanas se parecem um pouco com o processo de iniciar um documento no word, afinal, você está ali repleto de ideias, com a motivação nas alturas e concatenações a mil, quando de repente, ao olhar a página do word, prontinha para receber seus pensamentos e destroçá-los em uma série abarrotada de letras, você encontra a temida materialização da letra calibre. O brilho some, a ideia se esvai em um mar aberto e revolto, chega a doer na alma.

Conhecer alguém, também contempla um pouco dessa mágica, afinal, é quase que impossível descobrir as inúmeras possibilidades que você viverá com aquele outro sujeito. Com isso, surgem as ideações, um pouco de expectativas, fortes inclinações para traduzir o que o desconhecido jamais pensou em revelar a ninguém. O primeiro passo foi dado, a relação finalmente está fluindo, tudo acontecendo conforme os parâmetros mais adequados dos princípios e costumes, mas de surpresa você percebe que o sujeito começa a agir extremamente por conveniência. A admiração desaparece, o pensamento se concentra em todos os piores defeitos daquele ser, o corpo declina completamente a presença do indivíduo e a matéria passa a não ocupar mais o mesmo espaço, por total incapacidade e definha em uma insustentável decadência do conviver.

Perder o brilho é mais fácil que ficar polindo por horas, qualquer objeto de prata decorativo, presente em uma sala abarrotada de quinquilharias e assim acontece com as relações humanas. Não há nenhuma motivação em continuar algo que não nos possibilite uma mínima troca. E com isso, entendo que estamos adentrando numa imensidade de camadas que existem em cada sujeito, contudo, sempre há espaço para a empatia ou um cantinho reservado para a responsabilidade afetiva que aquela relação concedeu aos envolvidos.

Nesse torvelinho de sentimentos, um tanto quanto desclassificatórios, tentamos viver em meio à diversas formas sob o amargo gorgolejar da captura de atenção de um ser. Completamo-nos com migalhas de diversas pseudo relações, encontradas à esmo, conjeturando um apobrecimento de nossas bases mais íntimas. Assim, quando percebemos, já estamos soterrados em um ecossistema vazio e sem nenhuma pretensão de crescimento futuro.

[Mas o ser humano insiste muitas vezes em permanecer naquilo que não lhe cabe mais…].

Ao reforçar esse pensamento, que possamos deflagrar um movimento de cura e principalmente um maior enriquecimento de nossa leitura do outro. Que ao iniciar qualquer relação, possamos analisar com calma e tenacidade, a experiência em dividir sentimentos, dores e alegrias. Quem sabe o que nos espera dentro daquela realidade paralela e completamente desconhecida? Afinal, se ao usarmos a mesma lógica de descarte da fonte calibre, elucidada no início dessa observação, poderemos trocar rapidamente para uma fonte arial ou times e obter melhores resultados. Contanto, a ideia é a mesma, mas a ação implica em uma delicada e atenta leitura para tal feito.

O sujeito na contemporaneidade, se contenta com pouco, porém não devia. Por outro lado, é fundamental regatar nossas defesas frente as intempéries causadas por sujeitos desprovidos de cordialidade e sensatez.

Encerro o word desejando que em meu percurso se perpetue a conectividade com fontes aceitáveis, afinal se somos os escritores de nosso próprio destino, quem sabe possamos deixar de lado os pequenos entraves e desconfortos de um cenário que não nos contempla, para provar o deleite de uma acolhedora e identificável perspectiva.

[O final ficou coerente, ou posso delimitar melhor conforme a proposta inicial?].

Autor: Vinicius de Souza

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Vinicius de Souza

Tem dias que eu curto escrever umas paradas. Já outros que procuro ler para poder criar mais estórias. Quer seguir? @vindesouza (: